quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Celine Dion - Happy Christmas (War Is Over)

Deixo aqui meu desejo de que o seu Natal, junto à sua família, seja de muita paz, saúde, amor e luz! E que o ano que se inicia possa ser mensageiro de uma nova era, onde as pessoas entendam o real significado da vida e da convivência.

E que a Paz possa reinar em todos os corações!


Márcia

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Olavo Bilac - Biografia e Poemas





Biografia

(extraída do site da Academia Brasileira de Letras)

Fundador

Fundador da Cadeira 15. Recebeu o Acadêmico Afonso Arinos.

Olavo Bilac (O. Braz Martins dos Guimarães B.), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias.

Eram seus pais o Dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac. Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano. Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “Semana” da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira.

Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando freqüentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional.

Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de 1880 a fase mais fecunda. Embora não tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de “Via-Láctea” e a “Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado do lavor.

Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilusão e morte do bandeirante Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-fon lançou em 1º. de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos e crônicas.


Alguns Poemas


Deixa o olhar do mundo

X

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.


Em mim também

VI

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida ... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.


Fogo-fátuo

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista:

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!


Longe de ti

XXXI

Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...

Tal aquele, que, mísero, a tortura
Sofre de amargo exílio, e tristemente
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente...

Porque teu nome é para mim o nome
De uma pátria distante e idolatrada,
Cuja saudade ardente me consome:

E ouvi-lo é ver a eterna primavera
E a eterna luz da terra abençoada,
Onde, entre flores, teu amor me espera.




segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Direitos Humanos - Graça Graúna


Lançamento do Comitê Estadual em Educação e Direitos Humanos , Recife, PE · 10/12


Em meio às celebrações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Comissões de Educação e Cultura e de Defesa da Cidadania realizam Audiência Pública, em parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE) – para o “Lançamento do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos”. As referidas comissões são presididas, respectivamente, pelas Deputadas Teresa Leitão e Terezinha Nunes. A audiência que se realizará no dia 10 de dezembro de 2008, às 10 horas, no Auditório, 6º andar, anexo I da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, contará com a presença de representantes de Movimentos Sociais: Comunidades Indígenas e Quilombolas, Associações de Idosos, Mulheres, Grupos de Saúde, Conselho Tutelar, Secretaria de Educação do Estado e do Município, Secretaria Municipal de Direitos Humanos e entidades afins.O lançamento do Comitê é uma das metas da Secretaria Especial de Educação em Direitos Humanos da Presidência da República – SEEDH-PR junto às catorze Universidades que tiveram seus projetos aprovados em 2006; entre eles, o Projeto de Literatura e Direitos Humanos, da UPE - Campus Garanhuns que tem como coordenadora a Profa. Graça Graúna e como Técnica Responsável, a Profa. Waldênia Leão.O símbolo do Projeto é a Bandeira da Paz, um dos mais antigos do mundo. Suas três esferas foram definidas pelo artista russo Nícholas Roerich, em abril de 1935, como a síntese de todas as artes, todas as ciências e todas as religiões dentro do círculo da cultura. Ele definiu cultura como o cultivo do potencial criativo no homem. Acreditou que alcançar a paz através da cultura é um propósito para ser realizado através do esforço positivo da vontade humana. Nessa mesma data, a programação da UPE se estende pela noite com apresentação do Teatro do Oprimido. Haverá também um recital e na Biblioteca da UPE uma exposição de livros e cartazes relacionados ao tema e, no hall da Faculdade, mais uma exposição de Tsurus em movimento. Na ocasião será apresentada a edição especial do Mafuá, Jornal Literário de Garanhuns/PE, enfatizando a relação entre Literatura e os Direitos Humanos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Texto de Paulo Roberto Bornhofen


Três formas de terror

Paulo Roberto Bornhofen


O cenário estava se armando. Quase quatro meses de chuvas. O solo estava encharcado, o rio, o famoso Itajaí-Açu, ganhava volume e tentava fugir de sua calha. O final de semana apenas começara, era sábado. Pela manhã, fui participar da Conferência Municipal de Cultura. Em meio a discussões sobre a cultura, um único assunto ganhava unanimidade, a chuva.
Quando voltei, no período da tarde, para o encerramento dos trabalhos, fui informado de que a conferência estava suspensa. O prefeito havia decretado estado de emergência. Voltei para casa e no caminho pude notar que as pessoas andavam apressadas, preocupadas. Cheguei a casa e fui deitar.
O barulho da chuva, que caía de forma torrencial, acordou-me. Fui até a cozinha e comecei a saborear uma castanha, quando pela janela da área de serviço notei o trânsito parado e sobre a pista da estrada havia uma lâmina de água barrenta, vermelha. A cidade começava a sangrar e eu não percebera. Fui até a sala, para olhar pela sacada, quando o trânsito parado na via que sai do Parque Vila Germânica chamou minha atenção. Quando cheguei à sacada a surpresa chocou. A rua em frente ao meu condomínio estava tomada pelas águas. Os carros passavam de forma cuidadosa. A água começava tomar a entrada do condomínio.
De súbito, corri e acordei minha esposa. Liguei para o COPOM para saber da situação e fui informado de que o Comandante do Batalhão estava presente. Liguei para ele e ouvi a sentença: “o plano de chamada está sendo ativado e és o primeiro a ser chamado!”. Já havia passado por esta situação antes, em meus 24 anos de serviço policial militar, dos quais 90% servidos em Blumenau; era a minha 5ª enchente.
Rapidamente preparei uma mochila, com alguns itens básicos, como o material de higiene, meias e cuecas. O fardamento eu guardo no quartel. Moro perto do Quartel do meu Batalhão e, pela experiência, sabia que não devia ir de carro. O Quartel pega água e sempre que Blumenau sofre com uma enchente, a casa da Polícia Militar é uma das primeiras a ser atingida. Não conseguia encontrar caminho para o quartel, estava tudo alagado. Liguei novamente para o Comandante, solicitando uma viatura.
Fui socorrido por uma de nossas viaturas do tipo camionete e no retorno ao quartel fomos parados por um grupo de pessoas que pedia auxílio para uma mãe com uma criança de 18 dias. Eram evangélicos que estavam participando de um encontro no Parque Vila Germânica, encontro este que também havia sido cancelado. Diante da situação, coloquei a mãe, com a criança nos braços, e mais uma senhora na viatura e partimos para a sua casa. Ele nos informou que morava na Rua José Reuter, no Ristow. O caminho foi longo. O cenário já era preocupante. Muitos alagamentos e deslizamentos pela via davam uma pequena mostra do que viria. A cidade não apenas sangrava, mas em alguns lugares ela já deixava sua carne à mostra. A cidade começava a mostrar suas entranhas, mas eu não percebia, não só eu, acho que até aquele momento ninguém percebia.
Quando chegamos à rua indicada, a senhora pediu-me que a deixasse antes de sua casa, que era em um morro, pois se parássemos em frente, ela não conseguiria sair, já que a viatura era muito alta. Lembro que ela ainda apontou para a sua casa e disse: - é lá que eu moro. Hora mais tarde, aquela região foi uma das mais castigadas da cidade, com a destruição de inúmeras casas pelo deslizamento de terra e muita gente morreu.
Quando cheguei ao quartel, me reuni com o Comandante e adotamos algumas medidas visando proteger o patrimônio. Por volta das 22:00h fomos dispensados. As previsões não apontavam para cheias. Confesso que fiquei feliz em voltar para casa. Fui a pé. As águas já haviam baixado e não encontrei nenhuma área alagada. Era uma trégua diabólica, apenas para transmitir uma falsa sensação de segurança. Uma pausa para o pior.
Blumenau e todo o Vale seriam tomados pelo terror. Silenciosamente a cidade era tomada por forças de proporções catastróficas. A cidade que aprendera a conviver com as seguidas cheias do rio não estava preparado para o que a aguardava. De forma sistemática e cruel, e natureza iria revelar toda a sua ira. A enchente teria companhia. Como que em uma bizarra aventura épica, um monstro com três corpos iria atacar o vale. A população seria acuada, judiada, massacrada. Os morros, que em épocas passadas eram o refúgio para as cheias, haviam se transformado em mortais armadilhas. Deslizamentos iriam tirar a vida de mais de uma centena de aterrorizados moradores do Vale.
Mas não no Domingo durante o dia. Novamente as águas recuaram. Nós voltamos ao quartel, havia sido chamado, novamente às 02:00h, em plena madrugada. Podemos dizer que o Domingo foi ameno durante o dia. Quando a noite se aproximou, nos preparamos para ficar ilhados no prédio do COPOM. Continuamente, as águas foram subindo. Não como nas enchentes que a cidade já havia testemunhado. O volume de água foi demasiado para um solo já castigado e ensopado por quase quatro meses de chuva. A enchente seria precedida de alagamentos. Lugares que tradicionalmente eram atingidos com determinadas cotas do rio, simplesmente ficaram embaixo d’água, independente da cota. Assim, de forma sorrateira, com total vilania, as águas pegaram os moradores de surpresa. É tradição que se adote determinada medida em função das cotas. Esta tradição foi destruída, desmoralizada, não serve mais para nada.
De agora em diante, quem se guiar pelas cotas estará placidamente esperando a morte chegar e não, como no passado, estará em estado de alerta para enfrentar, e vencer como tantas vezes já ocorreu, com a bravura (a bravura que moldou a multicolorida Blumenau) indômita dos orgulhosos blumenauenses, mais uma enchente. Triste ilusão que cega os sofridos bravos!
Com a chegada da noite nos instalamos no COPOM. Os telefones de emergência não paravam, assim com as águas do Ribeirão da Velha, que perigosamente passam e míseros metros dos fundos do aquartelamento. Sem pedir licença, e muito menos encontrar resistências, as águas foram tomando o quartel. Rapidamente uma furiosa lâmina tomou conta de todo o pátio. O Ribeirão da Velha, ardilosamente se apoderou do nosso quartel e lançou um braço que cortou caminho para evitar uma curva que contorna os fundos do mesmo. Agora, tínhamos as águas do Ribeirão, e sua astuta correnteza, nos cercando.
Pelo telefone, a comunidade continuava com seu grito de socorro. À medida que a noite avançava, o desespero aumentava, refletido nos ininterruptos chamados ao telefone 190. A cada telefonema, uma história de horror e desgraça nos alcançava. Pelo rádio, o que os policiais militares, homens e mulheres reportavam não era menos estarrecedor. Desmoronamentos, alagamentos, chuva torrencial e o rio, que fazia valer a sua qualificação de “Açu”, que em Guarani significa grande. O Itajaí-Açu alargava suas margens e engolia a cidade, engolia o vale.
O COPOM se viu envolto em um medonho frenesi. Dividíamos o espaço com os funcionários do SAMU, para alguns deles, a primeira experiência em catástrofes. Rapidamente a situação na cidade se deteriorou e o caos se instalou. Os deslizamentos não paravam. Morte e destruição em cada telefonema. Patrimônios, sonhos e vidas eram levados pelas avalanches de terra. Não demorou muito para que nossas viaturas se vissem sitiadas, suas rotas estavam bloqueadas, idem para as viaturas do SAMU. O socorro não circulava mais. Não chegava e quando chegava não saía. Estávamos vivendo algo inédito. Nunca antes tínhamos enfrentado situação parecida. Era uma guerra contra um inimigo astucioso, mas covarde. Batalhas eclodiam em todos os cantos da cidade na forma de deslizamentos, que produziam baixas e mais baixas entre os moradores. A luta era inglória. O número de vítimas ganhava corpo de forma assustadora.
Começamos a receber toda a carga da fúria da natureza. A cidade era atacada por todos os lados. Uma força descomunal a estava devorando, literalmente. Já não eram mais sinais, era todo o furor em seu esplendor máximo; a cidade estava com suas entranhas expostas. Entranhas famintas, que afloravam para o banquete diabólico. A terra dos morros se liquefazia e descia a encosta levando anos de trabalho duro, de sonhos, de projetos, de patrimônio duramente conquistado, de vidas, vidas e mais vidas. Entre as solicitações de ajuda, uma veio da Rua José Reuter, no Ristow, dando conta de que cerca de quinze casas haviam desmoronado como que em um efeito dominó, em que as pedras do jogo são casas, são vidas. Será que aquela mãe com seu bebê de dezoito dias foram atingidos? Passados dez dias daquela noite, ainda não sei. Falta-me coragem para retornar e saber daquelas pessoas. Acho que prefiro não saber. Uma contabilização macabra foi desenvolvida no COPOM. Tentávamos imaginar a quantidade de mortos, com base nas súplicas, nos pedidos desesperados por socorro que nos chegavam. Isso na Polícia Militar; e no Corpo de Bombeiros? Nem dava para imaginar.
Já havíamos perdido a energia elétrica e usávamos o sistema de suporte para emergência, um conjunto de baterias administradas por um software. Aos poucos este sistema foi falhando. Os computadores apagaram. Fazia horas que estávamos à luz de velas. Apenas o rádio e telefone 190 funcionavam. Não tínhamos mais como fazer os registros. O sistema rádio, que é ligado aos computadores foi perdido junto com eles; conseguíamos operar apenas através de um rádio tipo HT (aqueles rádios que os policias usam na cintura). Todo o sistema de segurança da cidade, ligado à manutenção da ordem pública, dependia de uma mísera bateria de HT, e quando ela acabasse... Em meio ao caos que assolava a cidade e se refletia em cada policial ilhado naquela sala, um soldado se aproxima de mim e com os olhos arregalados diz: “Major estão morrendo lá fora e não podemos fazer nada!” Simplesmente assenti com a cabeça. No pátio do quartel, aquela lâmina de água agora já tinha mais de um metro de espessura e era varrida por uma forte correnteza. Pensei comigo: se este prédio resistir e não desabar, podemos dizer que temos sorte.
Passados alguns instantes, perdemos o telefone 190. Todo o sistema caiu, e a bateria do HT resistia bravamente. Aos poucos, fomos percebendo o silêncio e como que um alívio tomou conta do ambiente. As más notícias não paravam de chegar, só que agora em menor número, apenas pela comunicação com as viaturas. Fomos informados de que um gasoduto explodira em Gaspar. Qual o tamanho da destruição? Havia mortos? Quantos? Apenas especulações. Aquela noite de terror estava longe de terminar. Pela janela do COPOM podíamos enxergar por detrás dos morros a claridade do incêndio no gasoduto. Diante de nós, uma paisagem diabólica ganhou forma. A claridade do incêndio era como que um pôr do sol, ou uma lua cheia a iluminar a morte e a destruição que se abatia sobre a cidade, que alagada desmoronava sob o seu próprio peso.
Terra, água e fogo estavam juntos, unidos contra os habitantes do vale. Desta forma, a primeira noite foi vencida e chegou o dia. O primeiro de uma seqüência de dias macabros. Dias que mostraram toda a nossa impotência e incompetência diante da fúria grotesca da natureza, que, sem pedir licença, foi devorando o que encontrava pela frente. Dias que mostraram, também, como a nossa arrogância pode potencializar as forças da natureza quando esta simplesmente resolve seguir seu curso normal. Mas, ainda não tínhamos conhecido o verdadeiro drama, o tamanho da tragédia. Era só o começo!

Paulo Roberto Bornhofen

Major da Polícia Militar de Santa Catarina e escritor.
Membro da Academia de Letras Blumenauense, da Academia de Letras de Canelinha e da Sociedade Escritores de Blumenau.


(Texto publicado com a autorização do autor)