quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Poesia de Luiz de Miranda



Amor de amar


Luiz de Miranda


Dispo-me dos pudores da forma
coloco meu ouvido no teu peito
e deixo-me levar
na emoção de quem procura
teu rosto na sombra
e te purifica te revela
te orvalhece te incendeia
e comparece em ti
com estas palavras
trazidas da alma

Se chegarei à poesia
não o sei
apenas escrevo estas linhas na água
para brilhar no céu
um dia
recolhidas pelas nuvens
ou espremidas a longo véu das chuvas

Agora desliza minha mão
a auscultar a memória da tua pele
a viver nela o tempo impensado
dos navios perdidos
viver na tua pele
todos os naufrágios
e renascer na palma
do amanhecer
Agora a vida é renascer
sempre em ti

Um pensamento fugidio
às festas da aurora
é teu nome em meu coração
a romper o silêncio
um risco de luz
transfigurado em tua face
é meu guia
e seguirei
cuidadoso
como um cão
e seguirei teu cheiro
pela noite imensa da paixão

Seguirei
até que te convertas
na própria tinta das palavras
e venhas a escrever
desde esta janela de espanto
que é o mundo
luz redonda de infinito

Seguirei contigo
ainda que estejas longe
e te desfaleças
noutra solidão
noutro minuto de esperança
e te consideres ausente
como são ausentes as distâncias
mas te chamarei baixinho
para te estelar
nas proximidades mais íntimas do amor
Para te estelar
na longitude dos espaços
das geografias
que o amor tem outro calendário
outro itinerário
E és tu, namorada,
que me dás a música dos versos
seu rebentar na carne



Do livro Amor de Amar (1986)

(Poema publicado com a autorização do autor)


4 comentários:

  1. solidária tua iniciativa de publicar terceiros escribas, poeta amiga.
    revela muito ainda mais o altruísmo que vai guardado na tua alma.
    Luiz de Miranda é um poeta da nossa cidade muito conhecido lido, conhecido e festejado em nosso pequeno planeta.

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  2. OLÁ QUERIDA,TENHO VISITADO SEU BLOG E ME DELICIADO COM LINDAS POESIAS,PARABÉNS POR SUAS INICIATIVAS.
    FONTES DE TALENTOS E SENSIBILILIDADES .UM BEIJO.
    VALQUIRIACALADO

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  3. Merecida e justa homenagem ao Miranda, irmão das pampas que invadiu o asfalto com seu cavalo épico e cão lírico, sua paixão pela liberdade, o amor e a vida.

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  4. Oi Márcia, parabéns pelo espaço concedido à poesia. Gosto muito dos textos do Miranda: sensibilidade total. Abraços, Pedro.

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