sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Morre o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura 1998


Poema à boca fechada



José Saramago
(16.11.1922 – 18.06.2010)


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gaivotas

© João Justiniano da Fonseca



Imagem: Google


As gaivotas que voam no meu céu
enquanto desce a tarde, vagarosa,
asas de sonho, penas de esperança,
têm a imagem da fé que tudo vence...

Quero que longa seja a tarde e more
a cair no poente, que as gaivotas
quando é noite recolhem-se no alpendre,
porque nas trevas só morcegos voam.

Durai, minhas gaivotas, mais um tempo,
nesse vôo de tardinha lenta e mansa,
mantendo-me a ilusão indefinida.

Quando deixardes de voar, por certo,
a tristeza me invade o coração,
mata o sonho e a esperança, a própria fé...



(Soneto enviado por email pelo autor)

domingo, 6 de junho de 2010

PLÁGIO, PLÁGIO!


- Pega ladrão!

Poderia começar este texto falando sobre caçar plagiadores, mas estes nem precisam ser caçados. Afinal, eles são a espécie mais desprezível e mais fácil de ser encontrada no universo virtual. Pessoas inescrupulosas, dotadas de completa falta de imaginação, têm como único trabalho digitar “control c” e “control v” (leia-se “copiar” e “colar”) e sair pela internet se promovendo com criação alheia, isto é, nomeando-se autor da mesma. Isto é plágio, crime previsto pela Lei n.º 9.610, de 19/02/98 (Lei dos Direitos Autorais). E, como em toda lei, existem punições para quem as burla.

O que um autor leva dias, meses ou anos para produzir acaba nas mãos de delinquentes intelectuais. E o que isto tem de diferente de qualquer outro roubo? Nada! Roubo é roubo, não importa por qual meio ele se efetivou. O resultado é o mesmo: o direito de um cidadão é violado. Combater essa prática é obrigação de todo leitor consciente, de todo autor autêntico.

Foi o que ocorreu com o livro "O Carro de Boi", escrito em 1997 por Caio Martins e publicado pela Editora Romus Artes Gráficas, copiado na íntegra e postado na web por sujeitos sem nenhum escrúpulo nem ética. Abaixo, menciono a obra original e o "link" para a página. Vale a pena conhecer. Para os plagiários, somente há que dizer: - Pega ladrão!

© Márcia Sanchez Luz
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O CARRO DE BOI (1)
Caio Martins

Tem carro de boi, e tem carreta. Carreta, ou carroção, tem roda raiada e é muda, não canta. Carro de boi tem roda inteira, e canta para se ouvir de léguas, seja gaita, pombo ou baixão . É coisa de sertanejo, é uma saudade doída de um tempo onde se ia devagar, mas havia mais tempo para ver e entender as coisas. Saber de carro de boi, é mexer com magia, é entender a alma da madeira e do ferro, da terra e do fogo, da água e do ar... [...]

(1) Veja o texto completo em:

http://caiovmartins.blogspot.com/p/o-carro-de-boi.html