domingo, 25 de julho de 2010

Remendos

Comemorando o Dia Nacional do Escritor


Noturno - Joan Miró


Muitos são pequenos excertos
de grandes paixões
de poemas que falam
o que minha boca cala.

Muitos são pequenos remendos
de poucos retalhos
que consegui obter
a duras penas.

Poucos são grandes acertos
que me dispus a contar
nas noites de insônia
nos dias chuvosos
nublados
turvos
frios.


© Márcia Sanchez Luz


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Soneto de Fernando Pessoa


Fernando Pessoa, por Almada Negreiros


Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.