domingo, 12 de junho de 2011

Fernando Pessoa - O Amor

O Amor

Fernando Pessoa
13.06.1888 – 17.03.1925

O amor, quando se revela,
não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...

(In "Poesias Inéditas")

Um comentário:

  1. Bonita escolha, Márcia. Quiçá, quem se enamore, não tenha a perspicácia do Poeta, a sensibilidade e delicadeza de quem o publica num dia que deveria ser festejado todos os dias.
    As convenções vorazes e mercenárias pasteurizam o amor, os poetas dos amantes o resgatam.
    Eis, minha querida amiga, o teu áspero e doce ofício...

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