quarta-feira, 21 de março de 2012

Feito Raro

© Márcia Sanchez Luz

Pelo Dia Mundial da Poesia


(Img: Márcia Sanchez Luz)
















Embora tudo se transforme
e entorne à terra a água que transborda
transfigurando a única certeza inerte
que embota a alma de tristeza incerta

Embora tudo o tempo apague
e o riso doce transpareça a crença
de uma criança que se agita em festa
desfigurando a lógica que açoita

Embora tudo não se aquiete agora
e a dor que assola não se locomova
na ausência tosca de uma lamparina
ardendo em fogo que nunca se apaga

Eu quero o ar não rarefeito
o feito raro de uma estrela
que atrelada a um minotauro
traga mitos e matrizes
se enlaçando em cicatrizes
entranhadas, renitentes.

6 comentários:

  1. A sonetista protesta. Sabe que o tempo tudo apaga, mas quer respirar o ar não rarefeito.
    Nem eu, Márcia, nem eu...

    Beijos,
    Jorge

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  2. Belo poema, Márcia! Contudo, o tempo não apaga nada!

    Cicero

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  3. se tudo transtorna
    desborda da margem
    certo é o vazio
    compacto, perene

    Se a luz desbrilha
    o coração desfibrila
    as tão velhas bodas
    são laços de fitas

    Se loucas, tal birutas
    aos ventanis sonoros
    queimam de luas os poros
    orvalhados de suor da aurora

    o peito inflado, aspirado
    o pó de opacas, escuras fendas
    do galope ciclópico desmontado
    das cores todas resta o negro
    a essência despegada da tez
    láctea lembrança da tua nudez

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  4. Márcia, elogiá-la seria o lugar comum. Momentos há nos quais integramos profundamente as palavras de seres afins, sem filosofias, sem rascunhos. Diria que, até, instintivamente, como se cada novo texto, ao nascer, já nos integrasse... "Feito Raro" tem essa virtude. E quando ocorre, ficamos em (e)terna e grata dívida!
    Beijos.

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  5. Bravo, Márcia, belo poema! um abraço!

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