domingo, 22 de julho de 2007

O POETA

O POETA

O poeta molha a face
Seca o pranto e se levanta
Deixa o prato, deixa tudo
Só não deixa a esperança.

Escreve...
Rabisca...
Pára o carro num lampejo
Desce o morro
Amarra a fala
Afia a alma
Afoga a dor
Aflige a calma
Cospe fogo se preciso.

O poeta assume a culpa
Do buraco que matou
Da faca que cortou
Do fogo que queimou
Da água que afogou
Do ar que rareou
Da dor que se assolou.

Aniquila-se...
Perturba-se...
Mas logo se levanta
Corre atrás do que esquecera
Verte a culpa, a insensatez
Lava a alma, cospe o horror
Tira disto uma certeza:
Nunca deixa de sentir.

Márcia Sanchez Luz ©


*Do Livro "No Verde dos Teus Olhos" - Editora Protexto, PR - 2007

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