terça-feira, 29 de setembro de 2009

Descoberta




Se ao me expressar
tu te desvirtuas,
perdes a razão,
gritas sem juízo...

Creio que o amor
que antes existia
(mesmo em fantasia)
já se consumiu.

© Márcia Sanchez Luz

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Soneto de Marco Bastos


SONETO POR UM AMOR MAIOR

© Marco Bastos


Tela de Marco Bastos


Quero o soneto como ninguém faz
Pelo amor que ainda aqui perdura
Em versos, trespassado por haicais,
Dourada filigrana, luz, moldura.

Falar ao amor que o amor se liquefaz
Sem embeber papéis, saliva pura.
Sem o querer torturas orientais
Água na pedra que um dia fura.

Cantar um canto, plena primavera.
Na chuva, arco, irisado barco.
Os nimbos voam - velas da quimera.

Nessa heresia um sapo, um charco.
Voa o amor, mera libélula era
Como li_belo - retesado arco!...

------------ ---------

Observação do autor: Soneto que incorpora nos tercetos dois haicais guilherminos (métrica 5/7/5, rimando o primeiro com o terceiro verso e contendo uma rima interna no segundo verso)

------------ ---------

plena primavera.
arco, irisado barco.
- velas da quimera.

um sapo, um charco.
mera libélula era
- retesado arco!...

© Marco Bastos

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Poema de Affonso Romano de Sant'Anna


Entrevista

© Affonso Romano de Sant’Anna




Telefonam-me do jornal:
-Fale de amor-
diz o repórter,
como se falasse
do assunto mais banal.

-Do amor? -Me rio
informal. Mas
ele insiste:
-Fale-me de amor-
sem saber, displicente,
que essa palavra
é vendaval.

-Falar de amor?-Pondero:
o que está querendo, afinal?
Quer me expor
no circo da paixão
como treinado animal?

-Fala...-insiste o outro
-Qualquer coisa.
Como se o amor fosse
“qualquer coisa”
prá se embrulhar no jornal.

-Fale bem, fale mal,
uma coisa rapidinha
-ele insiste, como se ignorasse
que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.

Ele perguntando
eu resistindo,
porque em matéria de amor
e de entrevista
qualquer palavra mal dita
é fatal.


* Este poema foi recitado na voz de Tônia Carrero no CD "Affonso Romano de Sant'Anna por Tônia Carrero" da Coleção "Poesia Falada".

domingo, 13 de setembro de 2009

Correio poético: Suíte da palavra - Anibal Beça (in memoriam)


SONETO DE ANIVERSÁRIO





Anibal Beça ©
13.9.1946 - 25.8.2009


Setembro me agasalha nos seus galhos
e de amor canto no seu verde ventre:
Eis a ventura vaga em danação,
bronze canonizado nas cigarras.

O canto é breve, fino, e já anuncia
o inconfundível som do último acorde:
aquele dó de peito em nó estrídulo.
Como Bashô sonhara, é despedida

que mal se sabe, é morte anunciada,
canora liturgia sazonal.
Em setembro me mato e me renasço

em canto livre, rouco, sem ter palco,
representando de cor e salteado
o meu 13, que é fado e sortilégio.



(Soneto enviado por e-mail pelo próprio autor)