CARTA A BOCAGE
© Carmo Vasconcelos
Eu que amo a poesia quase entendo
Como afogaste a alma em dor tamanha
Na pele de um boémio te escondendo
Iludindo uma plebe assaz tacanha
Demais sublime a tua poesia
D’estro maior que o seu entendimento
Caluniada foi por heresia
Enorme se igualando ao teu tormento
Pudera ter-te ao tempo conhecido
Que afagos mil, de mãe, eu te daria
E dos teus olhos brilho tão sofrido
Com o fulgor dos meus alegraria
Poeta de talento entusiasta
Porém de fado gémeo da má sorte
Duma vida que foi pra ti madrasta
Te salvou piedosa a terna morte
E lá onde te encontras nesta hora
Vingado da chacota e do ultraje
O derradeiro a rir és tu agora
De quem um dia riu de ti, BOCAGE!
***
Lisboa/Portugal/1998
(In Antologia da Associação Portuguesa de Poetas- ano 2005)
In E-Book "Luas e Marés"
(poema publicado com a autorização da autora)
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