sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Airo Zamoner: A maestria de um ser iluminado

A última porta

© Airo Zamoner


Fog in the park, Leonid Afremov















Quantas portas abri? Foram milhares?
Quantas se abriram dóceis, obedientes?
Quantas atravessei, só com olhares
desconfiados, furtivos, quais serpentes?

Muitas, peremptório, recusei,
e condenado eu fui, causando espanto.
Mas, sem atalhos, persegui a Lei
sem titubeios, sem um entretanto.

E surge agora, rindo, a nova porta,
rangendo, impassível. Na volta e ida,
meus argumentos todos ela corta

e me expulsa, assim, abstraída,
sem modos, sem decência. Nem se importa
que a plateia me aplauda na saída.


(Primavera, Novembro 2016)