sábado, 5 de fevereiro de 2011

A Lagartixa


© Álvares de Azevedo


A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores

Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.

3 comentários:

  1. Márcia não traz soneto, mas um poema onde brinca com as palavras e construções poéticas, num divertido falar sobre a lagartixa.

    Beijos,
    Jorge

    ResponderExcluir
  2. "Mal du siècle", assim se definia o estado "d'alma" reinante no romantismo importado nos inícios de 1900, indo do grotesco de Victor Hugo ao lúgubre de Augusto dos Anjos. No meio, Álvares de Azevedo, emérito membro da "canalha" do Largo de São Francisco.
    Mas, atrás da fachada mórbida dos poetas das Arcadas, havia espaço para ironias festeiras, como "A Lagartixa"...
    Há que subscrever, humildemente, o belo poema alegre dedicado não à virgem pálida, imponderável e inacessível (por isso insossa) mas, a uma mulher real, plena, que de fato mexeu com os fatos de um poeta.

    ResponderExcluir
  3. Lindeza, Marcia!
    Ah, esse olhar do grande poeta...
    A lagartixa!
    Genial...
    Grata pelo lindo presente, porque um post assim é um presente!
    Abraço, preenchido de gratidão pela visita que me fez.

    ResponderExcluir