quinta-feira, 7 de abril de 2011

Baudelaire, por Márcia Sanchez Luz
















Imagem: O enigma do infinito, Salvador Dalí

A Morte dos Pobres
(Charles Baudelaire)

Tradução de Márcia Sanchez Luz


É a morte que consola e que nos faz viver!
É o motivo da vida, é a única esperança.
Elixir que nos inebria, nos encanta
e nos dá forças para ver o anoitecer.

Através da tormenta, da neve, do frio,
é a clareza vibrante no horizonte escuro.
É o albergue famoso inscrito no livro,
em que vamos comer, dormir e estar seguros.

É um Anjo que tem em seus dedos magnéticos
o dom do sono, o dom dos sonhos extasiados,
e refaz a cama dos pobres desnudados.

É o resplendor dos Deuses, é o celeiro místico,
é o recinto dos pobres e seu berço antigo,
pórtico aberto sobre os céus desconhecidos!

domingo, 3 de abril de 2011

Dois sonetos de Théo Drummond












LOUCURA
Théo Drummond

Num gesto de quem procura
remexo os dedos na lama,
e bebo desta água impura
como quem nunca reclama.

A voz rouca grita e clama
por quem possa ter a cura
da minha cabeça em chama
que nunca mais se estrutura.

Sem que pudesse mantê-la
a vista tornou-se escura
como se fosse perdê-la.

Mas vi, na minha loucura,
que o céu não tinha uma estrela
e o chão era estrela pura.


AMOR PLATÔNICO
Théo Drummond
 

A distância que sempre nos separa
só podemos medir pela saudade.
E cada coração sempre repara
que é maior, cada dia, a intensidade.

Amar, de longe, nem é coisa rara,
embora doa mais, pois nos invade,
a enorme dor que cada qual mascara:
o querer estar perto, por vontade.

Platônico é um amor que sempre existe,
e com toda a saudade que carrega
a tudo e a todos este amor resiste.

Mesmo de longe, quando o amor se apega,
pode, na solidão parecer triste
contra tudo ele luta e não se entrega.

(Sonetos publicados com a autorização do autor)