Morre o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura 1998
Poema à boca fechada
José Saramago
(16.11.1922 – 18.06.2010)
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)
Belíssimo, Márcia. O que se apaga, uma hora estando aqui, depois não mais, é mera miragem do que admiramos. Dom, talento, gênialidade e muito esforço, muito trabalho, a persistência dos que acreditam ser, uma só palavra, o começo e o fim e o reínicio dos siclos. Dos séculos: adeus!
ResponderExcluirÉ verdade, Caio. Pensei em homenageá-lo postando um de seus textos, mas este poema diz tanto de Saramago!
ResponderExcluir"Calado estou, calado ficarei,
pois que a língua que falo é de outra raça."
Não é preciso dizer nada...
Este comentário foi removido pelo autor.
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