Que banharam minh'alma apaixonada.
Se em meus cantos há trechos de harmonia,
Devo-os a tua voz, doce, inspirada.
Que inundou de sonhos minha mente.
Pelos sons de tua harpa harmoniosa
Eu da minha afinei o som plangente.
Que da razão o estro me incendeu.
Se em meus versos se encontra algum encanto,
Embora de minh'alma, é todo teu.
Que constante em minh'alma residiu.
Se em meus cantos há terna melodia
A ti pertence, só de ti partiu.
Que suave inspirou minha razão.
Se há estrofes de cor imorredora
São devidas a tua inspiração.
Em letras cintilantes de ouro e luz,
Vê como em cada estrofe soletrando
A tua imagem plácida transluz.
Os versos que, de longe, te escrevi.
Se um dia eu alcançar da Glória a palma
Pertencerá unicamente a ti.
Contigo me sinto bem.
Por tua voz, eu consigo
Esquecer a voz de "alguém"...
Minha fanada ilusão.
A terra logo clareia.
Mas se a minh'alma entristece,
Ela comigo pranteia.
Minha fanada ilusão.
Minto no canto, a sorrir.
E tu, violão amado,
Compreendes meu sentir.
Minha fanada ilusão.
Fazes-me, tu, tanto bem!
Acompanhas o meu canto:
Se choro, choras também.
Minha fanada ilusão.
ofereceu a todos seu encanto:
— comédia e risos, danças, grito, pranto —,
feito num dia, quase de improviso,
sem preparar-se ao Sonho e ao sorriso,
sorriu, sonhou e deles fez seu canto!
hoje ele velho, ao léu, abandonado,
relembra os tempos áureos do passado,
em que entre mil guardou supremas glórias,
ao dar ao povo um pouco das histórias
que contarei do herói aposentado.
nele encenando cantos de coragens,
ali deixou também suas mensagens,
de Fé, Protesto, Amor e de Verdade...
Relembra o palco, ainda com saudade,
da bela peça, algumas das passagens:
"tendo acendido, marcharam
"pela noite — e não pararam.
"E marcham, marcham, não param.
"E cada archote que tomba
"cem braços levantarão!"
"liberdade a nascer manhã..."
um personagem simples, sertanejo,
dizer, amante e cheio de desejo
à amada sua, em gesto apaixonado:
— "Teu bêjo, amô, é tão aducicado
que é çucarado o gôsto do teu bêjo...
do escravo preso ao mando do feitor:
com ele geme e sofre a mesma dor:
— "Trabalha, negro!" E enquanto do inimigo
recebem palco e homem tal castigo,
unem-se as vozes num imenso amor.
o corpo seu, a se movimentar,
lembra o batuque quente; e no sambar,
retendo a cena ainda na lembrança,
o palco baila, baila a mesma dança
que em tempos idos viu representar:
"olha o bambo-do-bambo-bambu-bambá,
"olha o bambo-do-bambo-bambu-bambeiro,
"do-bambo-bambu-bambeiro,
"do-bambo-bambu-bambá..."
muda a cena, aos poucos faz-se ouvir:
começa lenta e, rápida, a seguir,
pra terminar num verdadeiro pranto:
— "Podes partir, pois não não tens encanto...
E tu partiste... Para quê sorrir?"
e nele foi feliz, já muita gente.
Felicidade... — velha, meu presente,
tão pequenina, ou mesmo assim perdida —,
mas sempre inteira e sempre tão querida,
que por mais presa, mais independente...
cenário triste, heróico ou de agonia,
com "novas" cenas para um novo dia...
Palco sonhando um sonho já contado
— neste seu pranto, um mundo de passado,
no seu passado, um mundo de poesia...