Mostrando postagens com marcador Leila Míccolis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Leila Míccolis. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A poesia de Corália Míccolis




















A TI
                À minha mãe

Tu foste a inspiração, a sinfonia
Que banharam minh'alma apaixonada.
Se em meus cantos há trechos de harmonia,
Devo-os a tua voz, doce, inspirada.

Tu foste a meiga imagem graciosa
Que inundou de sonhos minha mente.
Pelos sons de tua harpa harmoniosa
Eu da minha afinei o som plangente.

Tu foste o brando fogo sacrossanto
Que da razão o estro me incendeu.
Se em meus versos se encontra algum encanto,
Embora de minh'alma, é todo teu.

Tu foste a pura e cândida harmonia,
Que constante em minh'alma residiu.
Se em meus cantos há terna melodia
A ti pertence, só de ti partiu.

Tu foste, enfim, a musa encantadora
Que suave inspirou minha razão.
Se há estrofes de cor imorredora
São devidas a tua inspiração.

Se aqui não vês o nome teu brilhando,
Em letras cintilantes de ouro e luz,
Vê como em cada estrofe soletrando
A tua imagem plácida transluz.

Aceita pois, imagem de minh'alma,
Os versos que, de longe, te escrevi.
Se um dia eu alcançar da Glória a palma
Pertencerá unicamente a ti.

Corália Míccolis
Publicado em "Brasil Feminino" nº 3, ano 1º, abril de 1932, RJ


Cantiga


Oh! violão, meu amigo,
Contigo me sinto bem.
Por tua voz, eu consigo
Esquecer a voz de "alguém"...
 

Canta e chora violão
Minha fanada ilusão.


A lua quando aparece
A terra logo clareia.
Mas se a minh'alma entristece,
Ela comigo pranteia.
 

Canta e chora violão
Minha fanada ilusão.


Viver chorando é meu fado,
Minto no canto, a sorrir.
E tu, violão amado,
Compreendes meu sentir.
 

Canta e chora violão
Minha fanada ilusão.
 

Violão, calas meu pranto,
Fazes-me, tu, tanto bem!
Acompanhas o meu canto:
Se choro, choras também.
 

Canta e chora violão
Minha fanada ilusão. 

Corália Míccolis 
27/07/1935


História de um palco

Um palco simples, que, sem ser preciso,
ofereceu a todos seu encanto:
— comédia e risos, danças, grito, pranto —,
feito num dia, quase de improviso,
sem preparar-se ao Sonho e ao sorriso,
sorriu, sonhou e deles fez seu canto!


Viveu o palco um ciclo de vitórias;
hoje ele velho, ao léu, abandonado,
relembra os tempos áureos do passado,
em que entre mil guardou supremas glórias,
ao dar ao povo um pouco das histórias
que contarei do herói aposentado.


Juntos nos vem à mente a mocidade:
nele encenando cantos de coragens,
ali deixou também suas mensagens,
de Fé, Protesto, Amor e de Verdade...
Relembra o palco, ainda com saudade,
da bela peça, algumas das passagens:

 
"E nesta luz, seus archotes
"tendo acendido, marcharam
"pela noite — e não pararam.
"E marcham, marcham, não param.
"E cada archote que tomba
"cem braços levantarão!"
 

"E o mundo inteiro, cantando,
"liberdade a nascer manhã..."
 

Ouviu também o moço acabrunhado,
um personagem simples, sertanejo,
dizer, amante e cheio de desejo
à amada sua, em gesto apaixonado:
— "Teu bêjo, amô, é tão aducicado
que é çucarado o gôsto do teu bêjo...


Recorda cenas do Brasil antigo,
do escravo preso ao mando do feitor:
com ele geme e sofre a mesma dor:
— "Trabalha, negro!" E enquanto do inimigo
recebem palco e homem tal castigo,
unem-se as vozes num imenso amor.


Num dos caminhos desta sua andança,
o corpo seu, a se movimentar,
lembra o batuque quente; e no sambar,
retendo a cena ainda na lembrança,
o palco baila, baila a mesma dança
que em tempos idos viu representar:


        "Olha o bambo-do-bambo-bambu-bambeiro,
        "olha o bambo-do-bambo-bambu-bambá,
        "olha o bambo-do-bambo-bambu-bambeiro,
        "do-bambo-bambu-bambeiro,
        "do-bambo-bambu-bambá..."


A gargalhada em vez do antigo canto,
muda a cena, aos poucos faz-se ouvir:
começa lenta e, rápida, a seguir,
pra terminar num verdadeiro pranto: 


— "Podes partir, pois não não tens encanto...
E tu partiste... Para quê sorrir?"


Já muita gente o comparou à vida
e nele foi feliz, já muita gente.
Felicidade... — velha, meu presente,
tão pequenina, ou mesmo assim perdida —,
mas sempre inteira e sempre tão querida,
que por mais presa, mais independente...


Repousa o palco, folga o seu trabalho,
cenário triste, heróico ou de agonia,
com "novas" cenas para um novo dia...
Palco sonhando um sonho já contado
— neste seu pranto, um mundo de passado,
no seu passado, um mundo de poesia...

Corália Míccolis
(*) Poema de 22/08/68, encontrado justo no "Dia do Teatro", em 27/04/2002



sábado, 14 de setembro de 2013

ANTOLOGIA “POESIA PARA MUDAR O MUNDO”





ANTOLOGIA “POESIA PARA MUDAR O MUNDO”
Mais uma iniciativa de Blocos Online

Este projeto não é para todos os poetas. É exclusivamente para aqueles que acham que a poesia pode mudar o mundo, que ela pode fazer com que as pessoas se tornem melhores, menos violentas, mais sensíveis, mais reflexivas, mais participativas, mais amorosas, mais atenciosas, mais criativas.
Esse projeto é apenas para os poetas que acham que a poesia pode transformar o mundo em um lugar melhor: mais arejado, mais digno, e que, através dela, as pessoas podem entender melhor seus sentimentos e suas vidas, questionando estereótipos, preconceitos e semeando o diálogo como forma de envolvimento social. Um projeto somente para os que acham que a palavra tem força e poder de derrubar barreiras, muros, fronteiras, contribuindo para um planeta mais lúdico e lúcido.
Nós, de Blocos online, acreditamos nesta proposta há dezessete anos na rede, e há mais tempo ainda antes do advento da internet. Cremos ardentemente na transformação do mundo através da literatura. Se você tem o mesmo objetivo, venha participar conosco deste amplo projeto de amor pela poesia, pela natureza, pela vida.

INFORMAÇÕES DO PROJETO “POESIA PARA MUDAR O MUNDO” 

• Publicação on line - Antologia digital. 
•  Cada poeta participará com um poema mais longo (de 28 versos), ou dois poemas de tamanho menor, ou até quatro poemas curtos, que totalizem no máximo este mesmo número de vinte e oito versos, além de uma biobibliografia de até 450 palavras e uma foto 3x4 (não pode ser maior do que este tamanho). Os poemas não precisam ser inéditos, porém precisam não estar ainda on line no nosso portal. Não serão aceitos poemas político-partidários ou ofensivos a qualquer pessoa ou religião.
• Quem preferir poema visual pode enviar duas (que caibam em uma página) ou um poema ilustrada. 
• Preço da participação: R$ 100,00 (pagamento por depósito bancário — serão fornecidos os dados aos que confirmarem a sua participação).
• Prazo limite para o envio: 18 de outubro de 2013, impreterivelmente.
• Lançamento: até final de novembro de 2013. 
• Organização: Leila Míccolis.
• Quem estiver interessado em participar comunique-se através de uma mensagem endereçada a mim, para o email:blocos@blocosonline.com.br
• Realização Blocos Online – pioneiro em literatura na Internet.


Os editores

segunda-feira, 20 de maio de 2013

LANÇAMENTO DO LIVRO “DESFAMILIARES”, DE LEILA MÍCCOLIS


Livro: DESFAMILIARES – Obra poética de Leila Míccolis (1965-2012)
Autora: Leila Míccolis
Editora: Annablume (São Paulo)
Lançamento:  7 de junho  de 2013, Livraria da Travessa de Ipanema, às 19 horas
Páginas: 578


A OBRA

DESFAMILIARES traz a poesia de Leila Míccolis, reunindo suas obras individuais, as em parceria e os poemas esparsos em antologias nacionais de 1965 a 2012 e também Fortuna crítica: Affonso Romano de Sant’Anna, Angela Garcia, Carlos Nejar, Gilberto Mendonça Teles, Heloísa Buarque de Hollanda, Ignácio de Loyola Brandão, Ítalo Moriconi, Jair Ferreira dos Santos,  Nélida Piñon, Wilberth Clayton Ferreira Salgado. A capa é dos artistas pláticos: Urhacy Faustino e Mônica Banderas. Prefácio: Glauco Mattoso. 

Apresentação: Antonio Vicente Seraphim Pietroforte.

Sua produção poética não é acomodada ou suave, até porque sua autora é um dos ícones da Poesia dos Anos 70, que traz a insubordinação e o questionamento como algumas de suas características principais. Os poemas de Leila Míccolis são em geral transgressores, demolidores, irônicos, ferinos, críticos, cítricos, rebeldes, provocativos, mas bem-humorados. Inquietam, abalam, surpreendem. A obra de Míccolis, considerada uma das primeiras poetisas feministas brasileiras, contribui para a reflexão sobre a construção social da igualdade dos gêneros. Porém ela não se atém ao âmbito do universo feminino: vive amplamente o cotidiano do mundo contemporâneo – com suas perplexidades e contradições – interagindo com todos os grupos e setores da sociedade.

A AUTORA

Carioca, advogada (sem exercer atualmente a profissão), Mestra e Drª em Teoria Literária pela UFRJ (fazendo o pós-doutoramento), escritora, 30 livros editados (poesia e prosa), obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal, teatróloga, roteirista de cinema e escritora de novelas de TV, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”. Ministra cursos on line de teledramaturgia. Elaborou verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC) e também publicou: “Catálogo da Imprensa Alternativa”, 1986, pela RioArte/Prefeitura do RJ. Publicada na Revista Poesia Sempre (Biblioteca Nacional/MEC), consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura Brasileira, Setor Literatura/ Brasileira/Poesia/Tendências Contemporâneas) e dos “Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea”, editado pela mesma instituição, 1997. Coedita Blocos, com Urhacy Faustino, revista impressa e eletrônica .

domingo, 27 de maio de 2012

Fui um réptil?

Leila Míccolis

(crônica publicada no YuBliss)



Em criança, nunca me dei bem com brincadeiras do faz-de-conta. Achava um reino um tanto desconfortável, onde a realidade, em confronto com a imaginação, revelava-se frustrante e insuficiente. Para mim, era muito difícil imaginar, nas panelinhas, comidinhas inexistentes, ou então ensinar bonecas mudas, que me olhavam alheias e indiferentes e nunca aprendiam absolutamente nada. Entendo agora que para mim, na época, o faz-de-conta assemelhava-se a certas propagandas enganosas que assistimos hoje na publicidade.
O nunca encenar “teatrinhos” na infância possivelmente marcou muito a minha postura diante da vida, fazendo-me distinguir no dia a dia fantasia da realidade, não para dicotomizar-me, mas para aprender a trabalhar com os diversos ângulos de mim, simultaneamente: eu e meus múltiplos. Nem sempre é fácil na vida real saber onde acaba o “se” e onde começa o “agora”, talvez porque a realidade, com suas diversas interpretações, pode ser tão fluida quanto a fantasia. No entanto, ciente dos meus mundos paralelos, acabei evitando cair na armadilha de protagonizar papéis na vida real, me tornando uma personagem de mim mesma.
O fato inconteste é que sempre preferi o diálogo com os livros. Eles me mostravam, por exemplo, o habitat dos peixes, cheio de cores, formas e magia. Como eu adorava o colorido mundo submarino com seus animais e sua flora exótica. Antes mesmo de saber ler, eu me deliciava com as ilustrações, imaginando histórias das profundezas abissais. Isto era bem diferente do mero faz-de-conta. O oceano existia, os peixes também, e eu apenas inventava aventuras. Os livros me revelavam o mundo real, enquanto o faz-de-conta me soava como um palco, em que só se encenava monólogos. A ficção, portanto, era uma forma de eu própria transitar pelos universos e não de moldá-los à minha imagem e semelhança. Esta diferença de perspectiva fazia muita diferença. Sempre fez. Nas fotos coloridas havia diversos espécimes de animais, inclusive a tartaruga marinha. Pronto: cheguei onde eu queria.
Falando no facebook sobre meu micro, lento que nem tartaruga, revelei ao Chico Abelha que minha relação com elas era muito pouco amistosa, digamos até conflituosa. Então ele perguntou: “como analisaríamos uma mulher que adora gatos e cachorros, mas tem horror crônico a tartarugas...? rsrsrssrs! freud explicaria?” Devidamente instigada, fiquei de escrever sobre o assunto: a rara exceção do meu amor aos animais. Não se trata porém de desamor, é bem mais complexo: algo me incomoda profundamente nelas e, ao nos depararmos frente a frente, face a face, olho a olho, ocorre de imediato o processo atração x rejeição: elas correm (maneira de dizer) em minha direção e eu corro em direção contrária a delas. Não me importo com o tamanho: mesmo que você me apresente a mais meiga, suave e menor tartaruga do mundo na palma de sua mão, provavelmente me sentirei ameaçada. Lembro-me de que, uma vez, visitei alguém que tinha um cão feroz e uma tartaruga no quintal, e quando a dona da casa me disse: – “um momento que vou prender o cachorro”, eu pedi: – “não, por favor, prenda apenas a tartaruga”... A gargalhada foi geral, porque se tratava de uma tartaruga minúscula, “inofensiva” segundo sua dona; mas só me senti segura com a tartaruga presa no banheiro – nem preciso dizer que minha visita demorou o mínimo possível para não estressar a tartaruguinha.
Volto ao início: mentira, invenção, teatralização, fantasia, mesmo sendo bem difícil às vezes de perceber a diferença, elas ficam muito claras se as transponho para minha ligação (des)afetiva com as tartarugas. Vou dar exemplos: mentira é dizer que amo tartarugas. Invenção seria alardear que salvei alguma de morrer devorada por um tubarão; que tirei alguma foto sorrindo acariciando o casco de alguma delas, é pura teatralização (inclusive, se virem alguma fotografia assim, saibam que provavelmente ela foi editada...); e, por fim, trata-se de fantasia quando pratico nado de peito (o tipo de estilo que eu mais gosto) e me sinto como se fosse uma tartaruga marinha, o que ocorre frequentemente. E aí realmente entra Freud, meu caro Chico: até meu próprio signo capricórnio (a cabra marinha) indica que devo ter vindo do mar (meu sonho recorrente é sempre com ele) antes de pisar na terra. Não que eu queira fazer aqui nenhum tipo de regressão, mas pode ser até que em alguma encarnação passada, através da metempsicose transmigratória, eu tenha sido uma tartaruga que acabou virando sopa... (não entro em hipótese alguma em restaurantes que pescam lagostas ou peixes vivos, tipo: pesque e pague); daí se explicaria o total incômodo que sinto ao ver uma tartaruga – revivo a dor ancestral da profanação: ser caçada, morta, esquartejada e comida publica e impudicamente à mesa? – e também minha enorme resistência em sentir prazer de degustar quaisquer tipos de “frutos do mar”...

(Publicado com a autorização da autora)


segunda-feira, 25 de julho de 2011

No Dia do Escritor, Leila Míccolis em prosa

Uma de papagaio...
Leila Míccolis


Já notaram como todos têm uma piada ou um "causo" de papagaio para contar? Falar sobre papagaio e futebol é como apresentarmos prova cabal de nossa nacionalidade brasileira. Em geral o que papagaio mais fala é palavrão, porque é incrível a imensa capacidade do ser humano em ensinar ao bichinho aquilo que ele gosta de ouvir. Seja porém por isso ou por aquilo, pela plumagem verde e amarela ou pelo seu jeito desinibido e obedientemente desbocado, o certo é que esta irrequieta ave está sempre presente nos papos de bar ou na boca de quem procura o riso fácil e estereotipado. Tenho um conhecido paulista que toda vez que vem ao Rio traz um repertório novo de piadas deste tipo, e, entre elas, há sempre inúmeras sobre o animalzinho tagarela.

Não vou reproduzir nenhuma delas... até porque não sou fã de anedotas escabrosas ou que transmitem mais preconceitos do que risos (as que ridicularizam mulheres - louras ou morenas, por exemplo -, ou as que zombam de gays, de portugueses, de paraíbas, de negros, etc.). Vou contar, porém, uma historinha verídica que me impressionou muito e que aconteceu há alguns anos com um amigo meu, poeta e crítico literário do Rio Grande do Norte. Para preservar-lhe a privacidade, vamos chamá-lo, aqui, hipoteticamente, de Juliano. Ele morava em uma cidade perto de Natal com a avó, cuja característica principal era ser uma mulher extremamente hipocondríaca. Apesar de relativamente moça e saudável, todas as noites desfiava um rosário de sintomas, todos perigosos, irreversivelmente fatais, e culminava dizendo ao neto: — "Desta noite não passo".

Na casa, havia um papagaio, muito diferente de todos os outros: era mudo. Jamais falara nada. Por mais que Juliano tivesse tentado ensiná-lo, ele fechava-se em seu silêncio e dele nunca se ouviu um currupacopapaco sequer, mesmo entredentes (ops, entrebico). Aos poucos, meu amigo foi desistindo de ensinar-lhe alguma coisa e, com o correr dos anos, acabou por acostumar-se ao silêncio do "louro". No entanto, sempre cuidadoso com ele, o rapaz todo dia levava-o para o quintal pela manhã e o apanhava à tardinha, quando voltava do seu trabalho no jornal.

Um dia, porém, devido a um temporal, meu amigo ficou preso na redação do jornal, em Natal, sem ter como se comunicar com a avó (pois em casa eles não tinham telefone e o da vizinha estava com defeito). Por nunca ter cuidado do papagaio, a avó nem se lembrou dele, até porque o animal não reclamava de nada: não piava, não miava nem latia... Quando Juliano voltou para casa, encontrou o papagaio ensopado. Recolheu-o, enxugou-o, mas, de noite, o bichinho começou a tossir muito. A avó, "perita em doenças", diagnosticou que aquilo era uma gripinha de nada, em dois ou três dias ele estava bom novamente, não era como ela, que estava nas últimas (sempre).

Ao deitar-se, Juliano fez um carinho na cabecinha do papagaio, todo encolhido e murcho. O louro olhou para ele e, pela primeira vez, dirigiu-lhe a palavra, dizendo: — "Dessa noite não passo". Juliano ficou animado: pelo menos a chuva tinha limpado a garganta de seu amiguinho, ele agora era um papagaio normal, que repetia o que sempre ouvira ao seu redor. No entanto, sua alegria durou pouco. No dia seguinte, o papagaio tinha mesmo "passado", morrera. Comentário de meu amigo, diante da enorme diferença, no caso, entre as pessoas e os animais:

— "Vovó matraqueia o tempo todo falando em morte, e continua viva. O papagaio, com incrível senso de propriedade, na única vez que falou, mostrou que entendeu direitinho o significado do que ela vive dizendo, e morreu sem desperdiçar uma única palavra. Que bicho mais sábio!...".

Fonte: Além das Letras - blog de Leila no YuBliss

(Publicado com a autorização da autora)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Glauco Mattoso

2.279 - SONETO A LEILA MÍCCOLIS












Que tem de pequenina, tem de terna.
Concentra em si um pouquinho da maneira
de cada mulher brava brasileira:
Pagu, Tarsila, Anita. Ela é moderna.

Por décadas de luta, já governa
o mundo alternativo, farta feira
de arte, em vibrações de feiticeira:
Assim é Leila Míccolis, eterna.

Respeito a seus direitos ela cobra.
Ao bom comportamento é sempre avessa.
À fácil caretice não se dobra.

A frase lapidar dessa cabeça
é verso que resume grande obra:
"Falo do óbvio, antes que me esqueça."


Do livro: "Geléia de Rococó - Sonetos Barrocos", Edições Ciência do Acidente, SP, 1999

Fonte: Site de Leila Míccolis

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Lançamento da "Saciedade dos Poetas Vivos", vol. 12






















Blocos Online, sempre inovando, acaba de lançar a 12ª edição da Antologia Saciedade dos Poetas Vivos.

Os editores Leila Míccolis e Urhacy Faustino optaram por uma temática muito interessante – Poemas Dedicados -, proporcionando aos poetas a oportunidade de homenagearem, ou ainda, reverenciarem outros escritores ou mesmo pessoas importantes em suas vidas.

Deixo o convite para que leiam todos os poetas, assim como o prefácio sobre a importância da Paraliteratura, escrito por Leila Míccolis, sempre genial em tudo o que faz. A partir desta leitura, irão compreender a importância da temática proposta.

Poetas participantes:

Eunice Arruda, Flavio Gimenez, Flávio Mota, Gerson Ney França, Graça Graúna, Jania Souza, Jayme Benassuly, João Justiniano Fonseca, João Nilo, Josefina Neves Mello, Leninha, Márcia Sanchez Luz, Pedro Du Bois, Rizolete Fernandes, Sidnei Olivio

Homenageados:

Carlos Nejar
Salgado Maranhão


(clique na imagem do livro para lê-lo)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Crônica de Leila Míccolis


Sob o céu de Maricá

© Leila Míccolis

Sabe aquela música “Eu quero uma casa no campo”, do Zé Rodrix e do Tavito? Pois eu nunca quis. Sempre fui agitadamente urbana, e vir para Maricá, há doze anos, não foi opção, foi solução (que eu supus temporária) para nossa complicada situação financeira: sair de aluguel, condomínio, gastar menos, na época. Viemos para cá por questão de sobrevivência, apenas. Nunca pensei em morar no interior, em ter porco, cavalo, galinha, peru, marreco, porquinho da índia, coelho, ovelha e cabra, bromélias, cactos, gás de bujão e água de poço. Gostava do cheiro de gasolina e da vida agitada a mil por hora. Aqui, a quietude impera: a ruazinha não-pavimentada também é pouco movimentada: nem carteiro passa. O “êxodo” rural ainda coincidiu com uma série de rompimentos emocionais, o que dificultou e tornou mais lenta a minha adaptação.

O começo abrupto desta nova fase foi terrível, pois era uma casa que, de habitável, só tinha a sala, e assim mesmo sob um telhado que parecia ter dificuldades em se manter no lugar; havia apenas a estrutura arquitetônica, muita pedra, e o chão era de terra batida. Também não havia árvores, e o fornecimento de energia elétrica ainda era bem mais precário que hoje... Um desafio e tanto. A primeira vez que entrei na construção inacabada, vi sair um monte de morcegos de um cômodo: era ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante: eles voavam em “xis”, como se fossem os raios lasers que vemos em filmes de assalto a bancos, nos cinemas... Foram tempos difíceis que exorcizei fazendo um livro artesanal, praticamente inédito, chamado: “Sob o céu de Maricá”, em que falava principalmente de moscas e outros insetos não-identificados. A única distração destes primeiros tempos era eu, Urhacy e Mônica nos reunirmos em torno das fogueiras que fazíamos diariamente. Esses eram momentos verdadeiramente mágicos.

Maricá não é tão longe assim do Rio (do Fundão, onde ainda faço meu Doutorado na UFRJ, levo trinta a quarenta minutos); a distância de uma hora de estrada, porém, me “obrigou” a ficar muito mais seletiva: compareço pouco a lançamentos de livros, eventos culturais e badalações do gênero. Com isto, talvez, tenha adquirido fama de “distante”, ou de “esnobe”. Dá-se, também, que para o pessoal da capital, ter que atravessar a ponte Rio-Niterói é quase como chegar em outro planeta. Então, quando compareço a algum lugar, provavelmente como revide, pensando que me agridem, há sempre os que me perguntam se me aposentei, por estar morando no mato... Rio e cito o começo do poema do Alberto Cunha Melo chamado Um cartão de visita: “Moro tão longe, que as serpentes / morrem no meio do caminho. / Moro bem longe: quem me alcança / para sempre me alcançará”.

Cunha Melo termina este seu belo poema, dizendo: “Nada será fácil: as escadas / não serão o fim da viagem: / mas darão o duro direito / de, subindo-as, permanecermos”. Sim: é justo esta sensação de permanência que me habita. Hoje, amo este lugar e, apesar dos inúmeros problemas relacionados principalmente com uma péssima infraestrutura local, não gostaria de morar mais na capital, por vários motivos. Entre eles, cito alguns: lá não tem esse ar puro, este verde nos rodeando por todos os lados, este espaço amplo para conviver com animais, estas noites estreladíssimas, esta lua absurdamente linda, esta adorável piscininha, esse orquidário, essa natureza exuberante, estes pirilampos, estas borboletas coloridas, este paraíso terrestre sempre ao alcance da nossa rede...

A mudança para o “sertão” detonou transformações bastante radicais em meus valores, em minhas perspectivas e até em meu modo de encarar problemas, porque antes eu vivia um tanto superficialmente; agora que eu sei como se ergue uma parede, para quê serve a argamassa, de quê é feita uma pilastra, sei também como podemos ficar verdadeiramente alegres vendo a primeira torneira da casa funcionar, jorrando água. Simples assim. Viver aqui me fez valorizar a vida a partir de cada gesto e de cada objeto que antes eu só notava quando me utilizava dele. Deixei de prestar atenção às funções das coisas para perceber melhor a substância das quais elas são feitas. Realmente, uma grande transformação, ocorrida de dentro para fora. Com isto, não só a casa foi erguida a partir do zero, como eu também. E é por isto que para mim, hoje, Maricá é sinônimo de colheita.

(Texto publicado com a autorização da autora)

Confiram outras crônicas de Leila em seu blog no YuBliss.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MARES, LÁGRIMAS E OUTRAS ÁGUAS

Blocos Online lança edição 11 da Antologia Saciedade dos Poetas Vivos, em comemoração aos quatro anos do projeto na Internet



Poetas participantes:

Abilio Pacheco, Adelaide Amorim, Beatriz Amaral, Clevane Pessoa, Darlan Alberto T. A. Padilha/Dimythryus, Efigênia Coutinho, Flavio Gimenez, Flávio Mota, Gerson Ney França, Graça Graúna, Jania Souza, Jayme Benassuly, Luiz Otávio Oliani, Marlene Andrade Martins, Nazilda Corrêa, Paola Rhoden, Rosy Feros, Tere Tavares

Convidado
especial: Ferreira Gullar

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Seleção para Saciedade dos Poetas Vivos 11




Blocos Online seleciona autores para a Antologia "Saciedade dos Poetas Vivos 11", a última a ser lançada em 2010.

Poetas interessados em participar do processo de seleção devem escrever para Leila Míccolis: blocos@blocosonline.com.br



terça-feira, 13 de abril de 2010

Divulgação Leila Míccolis




CAMPANHA DE BLOCOS ONLINE

Depois de oito anos sendo mantido pela iniciativa privada, em 2010 Blocos Online não encontrou uma empresa que o patrocinasse, obrigando-nos, desta forma, a recorrer a você, nosso leitor.
Ficaremos pelos próximos cinco meses — até agosto — recebendo doações a fim de conseguir fundos necessários para a manutenção do portal, medida que, de certa forma, é também uma forma de verificar a importância de um dos maiores portais de poesia do Brasil para você.
Não estipulamos valor prévio para os depósitos, que deverão ser feitos através da conta corrente: 16300-7 Agência 2143 Banco Bradesco (nº 237), em nome de Blocos Editora, Assessoria, Consultoria e Produções Artística Ltda., CNPJ 30123830/0001-77. Solicitamos que o comprovante seja escaneado e nos enviado por e-mail para:
blocos@blocosonline.com.br
Caso o doador queira, poderemos emitir nota fiscal em favor do contribuinte ou de sua empresa.
Certos de que poderemos contar com o apoio de todos, inclusive na divulgação desta campanha — o link desta página é:
http://www.blocosonline.com.br/home/conteudo/campanhablocos.php — agradecemos.


CHAMADA PARA SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 10

Após nove antologias com o maior sucesso, tendo o respaldo de nomes como Affonso Romano de Sant'Anna, Lêdo Ivo, Thiago de Melo, Antonio Carlos Secchin, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Márcia Sanchez Luz, Alice Ruiz, Renata Pallottini, entre outros, a SACIEDADE DOS POETAS VIVOS, vol. 10, já está começando a ser organizada por Leila Míccolis, reunindo 17 poetas de qualidade, também com o intuito de ajudar a manter os onerosos custos do portal Blocos Online. O tema desta vez será BEIJOS (valendo assuntos afins: lábios, beijo roubado, beijo de amor, beijo de Judas, beijo de amizade, etc.). Os interessados devem escrever de imediato para Leila, no e-mail: blocos@blocosonline.com.br

domingo, 17 de maio de 2009

Novidades no blog de Leila Míccolis


Márcia Sanchez Luz recebe homenagem de Leila Míccolis na inauguração da seção “Poesia Comentada”, mais uma inovação do blog Links, thinks e things.

Para chegar lá, basta clicar no nome do blog, logo acima.

Bon Voyage!

sábado, 1 de março de 2008

Soneto de Leila Míccolis


DE DAFNE PARA APOLO

© Leila Míccolis


“Apollo and Daphne”, Theodore Chasseriau


Se eu quis sumir, fugir, dos teus encantos
foi mais por arte má do deus Cupido,
que te flechou, tendo depois sumido
sem nem pensar em mim... Eram quebrantos

e não amor o teu. Por isto, em prantos,
e muito medo, eu me escondi devido
a ser-te caça, jogo divertido,
perseguição sem paz por quaisquer cantos.

Meu pai ao ver-me aflita, enternecido,
mudou-me em árvore, compadecido,
para salvar-me, assim, do teu poder.

Mas se me amares mesmo, no futuro,
ó doce Apolo, sob um tronco duro,
hás de sentir meu coração bater.

(Soneto publicado com a autorização da autora)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Leila Míccolis, em prosa


RECUERDOS DO CEARÁ

Leila Míccolis


Em 1977, deixei a advocacia cheia de garra pela literatura, Ágape que até hoje não perdi, embora seja um pouco mais moderada do que há vinte e dois anos. Logo no ano seguinte, em 1978, Wladyr Nader, da então heróica Revista Escrita (SP), encomendou-me pela sua Editora Vertente, uma antologia com poetisas "não-alinhadas", ou seja, escritoras que não estivessem satisfeitas com a situação do mundo nem com a própria condição feminina. Reuni dez "Mulheres da Vida", título polêmico, próprio para mulheres que estavam na vida, questionando diversos aspectos sociais. O título, severamente criticado por direitistas, por esquerdistas tradicionalistas e até por centristas pseudo-moralistas, foi muito bem compreendido pelo público, que o interpretou corretamente, sem conotações depreciativas, como, aliás, eu previra mesmo que o fizesse.
Lancei a antologia no Rio de Janeiro e em várias capitais nordestinas, inclusive Recife e Natal. Quando cheguei em Fortaleza, nenhuma livraria queria aceitá-lo. Estávamos ainda sob o tacão da repressão e os livreiros receavam que a polícia aparecesse e fizesse das suas costumeiras gentilezas: invadisse a loja selvagemente, batesse nas pessoas, rasgasse livros, revirasse todas as prateleiras, instalasse o pânico. Ninguém queria correr este risco por lá. Para piorar, um jornalista que ouviu cantar o galo, mas não sabia onde (no caso, não lera o livro mas queria parecer bem informado), resolveu escrever que "Mulheres da Vida" era um relato autobiográfico de dez prostitutas. Eitcha! Aí danou-se tudo, fecharam-se de vez as portas de livrarias, pois todas eram muito decentes, de boa família e de fino trato.
Liguei para minha amiga Socorro Trindad, em Natal, uma das integrantes do livro (as outras eram: Norma Bengell, Isabel Câmara, Maria Amélia Mello, eu, Eunice Arruda, Aninha Franco, Many Tabachinik, Glória Perez e Réca Poletti). Relatei minha dificuldade e, depois de pensar um pouco, ela me sugeriu: "bom, se estão falando isto de nós e se as livrarias não aceitam o livro, então lance-o num prostíbulo"... Gostei da idéia. Dirigi-me a uma casa que achei simpática, nas imediações da Praça São Sebastião, e fui muito bem recebida lá. Maria Loura deu-me todas as facilidades para a realização do meu projeto, e, alguns dias depois, autografei o livro no Cabaré Estrela do Oriente.
O que devia ser lançamento, passou a ser algo diferente, inusitado, novo, com significados simbólicos: uma espécie de manifesto cultural, um ato de veemente protesto, chamando a atenção da mídia para o evento. Resultado: todos os jornais e televisões cobriram a "ousada manifestação cultural" e nunca tive um lançamento fora do Rio de Janeiro com tanta gente (inclusive foi lá que conheci Paulo Veras, saudoso parceiro, depois, no livro "Maus Antecedentes"). A intelectualidade em peso esteve presente, e também inúmeros políticos, que "hipotecaram sua solidariedade à nobre causa" literária. Vendi tanto livro que os exemplares que levei não foram suficiente; acabei vindo com mais de cento e cinqüenta encomendas pagas adiantadamente, mesmo os compradores sabendo que só receberiam o seu exemplar quase quinze dias depois, quando eu retornasse ao Rio.
O mais bonito de tudo, porém, foi a atitude da dona do bordel. Ela se sentia muito contente pelas altas personalidades em seu estabelecimento, é claro, mas estava mais comovida ainda pelo livro em si, por escritoras de nome não terem tido medo de serem "confundidas com elas". Eu raramente vi alguém pegar um exemplar com tanta consideração, com tanto respeito. Também raramente vi alguém ter uma interpretação tão simples e tão adequada de meus poemas. Era uma fase em que eu, propositadamente, queria chocar os bem-comportados, sacudir-lhes os ombros, e não media palavrões para agredir os puritanos. Pois ela, sem se importar com as palavras "de baixo calão" (afinal, costumava ouvi-la todas às noites justamente dos bem-comportados e dos puritanos), passou por elas com a maior naturalidade e se deteve no cerne da mensagem, que elas conheciam, na própria pele: o questionamento da condição feminina.
Maria Loura estabeleceu as "medidas de exceção" que achou compatíveis com a ocasião solene: a primeira delas foi a ordem expressa para que nenhuma de suas meninas trabalhasse, o que desmontou a imagem que tinham me dado, de que elas fossem extremamente interesseiras e mercenárias... Aquelas pelo menos, se fossem, teriam muito bem aproveitado a chance de triplicarem os lucros pela grande freguesia interessada nelas, já que o programa era insólito: compre um livro e leve uma menina... No entanto, todas diziam não. Trabalho, naquela noite, só de garçonetes, servindo as mesas, de copeiras, lavando a louça... Depois, Maria Loura continuou me supreendendo quando não aceitou o percentual da venda do livro, combinado anteriormente. Alegou que o consumo de comes e bebes fora mais do que suficiente, lucrara com isso e, principalmente, com a propaganda; por fim, no final da noite, ainda sentou-se com suas meninas e varou a madrugada me contando histórias, de alegria, de dor, de decepção, de esperança, e todas me tocaram profundamente, mudando em muito a imagem que eu tinha da "profissão mais antiga do mundo"....
Hoje, ao lembrar-me de Maria Loura e suas meninas do Cabaré Estrela do Oriente vem-me a mente a letra de Chico Buarque de Hollahda, em "Umas e Outras", quando uma freira e uma prostituta cruzam a mesma rua: "Mas toda santa madrugada/ quando uma já sonhou com Deus/ e a outra, triste namorada,/ coitada, já deitou com os seus,/ o acaso faz com que essas duas,/ que a sorte sempre separou,/ se cruzem pela mesma rua/ olhando-se com a mesma dor"... Não éramos freiras, naturalmente, mas, sem dúvida, mesmo com vidas tão diferentes, nos reconhecíamos, naquela noite, entre tantos sentimentos conflitantes oriundos de uma severa sociedade patriarcal.
Sempre me lembro deste lançamento com muito carinho, e o considero como sendo o melhor que já tive até hoje.

(publicado com a autorização da autora)

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


DIFERENÇA

Meu mundo é violento e com razão:
na rua, se eu apanho, é covardia
em casa, se eu apanho, é educação...


SEGREDO

Os carros atropelam minha bola,
a empregada reclama do encerado
mamãe esconde sempre meus esqueites,
pois se eu caio
dou despesas e atrapalho.
Os adultos
— cá pra nós —
só dão trabalho.

(poemas publicados com a autorização da autora)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Poemas de Leila Míccolis - ciclo ditaduras


CONTRADIÇÕES


Foi na vida que aprendi
a interpretar às avessas
os provérbios, pois na prática
as verdades são inversas:
quem não deve é quem mais teme,
há quem cale e não consinta,
e o diabo é exatamente
tão feio quanto se pinta.

(publicado com a autorização da autora)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Poema de Leila Míccolis

Ciclo Familiar:

ESTABILIDADE

Vivemos como casal:
você trabalha demais,
me sustenta,
proíbe isso e aquilo,
exige a casa arrumada,
quer almoço à uma hora,
o jantar às sete e meia,
sobremesas variadas...

Com teus caprichos concordo,
e por vingança, te engordo.

(poema publicado com a autorização da autora)

Poema de Leila Míccolis

Ciclo Lírico:

NOVO AMOR

Meu coração nunca pára
pra comparar, solta amarras,
vive seu tempo presente:
se ferido, em mim se ampara;
mas quando sara e se sente
contente, fica eloqüente,
feito algazarra de araras.

(poema publicado com a autorização da autora)